A doutrina era o meu padrinho que me ensinava. Chamava-se Albino Paulo. Naquele tempo, ele ensinava aí os meninos todos da terra. Era ele que sabia, porque ajudava à missa e era muito religioso. E os pais dos miúdos não sabiam como ele sabia. Depois os pais que tinham os filhos, mandavam-nos lá ir para ele lhes ensinar. E ele ensinava muito bem. Quando o padre vinha cá, mandavam-me lá ir. Diziam que o padre examinava as crianças, a ver se eles sabiam ou não antes de irem confessar. Ele perguntava-me e via que eu que sabia tudo.
Até houve uma vez que o meu pai, quando foi por a festa no Tojo, disse ao padre lá da freguesia do Piódão para ele me examinar:
- “Eu gostava que o senhor prior examinasse a minha Maria, porque ela está a servir e eu não sei se ela sabe a doutrina, se não.”
Eu não precisava, que eu estava na Mourísia. Era aqui que eu ia à missa e se faziam todos os actos religiosos que era preciso. Mas o meu pai, orgulhoso de saber que eu sabia muita doutrina, mandou-me lá ir para em modo do padre ver que eu sabia. Ele começou-me a procurar e eu respondi a tudo que ele perguntou.
- “Ai, ela sabe muito! Não precisa de saber mais.”
Não havia cá missa naquele tempo. Íamos à missa a Pomares. Não sei ao certo quanto tempo era, mas era a andar bem. A gente não íamos à missa todos os domingos, que era longe. Só quando havia festas é que lá íamos. Também íamos aqui à Moura da Serra. Havia ali capelania, naquele tempo. Vinha ali um padre dizer a missa. Primeiro era de Avô. De 15 em 15 dias era o de Avô e de 15 em 15 dias era o de Pomares. Já pensavam em criar lá a freguesia, vinham ali dizer a missa aos domingos. E a gente íamos àquela missa que era mais perto.