Que eu me lembre nunca houve médico na Mourísia. Embora ouvisse dizer que chegou a vir o médico à terra. Ainda hoje existe na Casa do Povo umas tesouras e mais umas coisas que estavam no posto médico. Portanto quando alguém estava doente, deslocavam-se a Côja, ao médico, ou ao Centro de Saúde a Arganil.
Ainda me lembro dos barbeiros. Ainda cá chegou a vir à minha mãe quando estava doente. Havia um barbeiro, na Benfeita, acho que era José Augusto. Receitava medicamentos e tudo. Se partisse uma perna também havia os endireitas. Que lá davam um “torcegão” às pessoas e ia ao lugar. Atavam uma ligadura. Lembro ainda de umas rezas que os mais velhos faziam para pés torcidos. Faziam, às vezes, até quando as cabras não comiam, também lá faziam as rezas mas agora acho que já cá quase ninguém percebe.
Havia aí uma senhora que fazia com um púcaro. Lembro-me de uma vez, ainda o meu pai era vivo, tinha nascido uns cabritos e depois eles não mamavam e essa pessoa lá fez a reza e ao outro dia já mamavam.
Para ajudar as mulheres a terem filhos havia sempre uma pessoa que servia de parteira e ia fazer o serviço que hoje fazem nas maternidades. Lembro-me, por exemplo, que a minha mãe ajudou várias, a minha sobrinha nasceu na Mourísia e lembra-se, já eu estava na cama quando ela “aparteirou” a minha sobrinha. Foi de repente, já não teve tempo de ir para a maternidade e nasceu em casa. Já tinha tido um mais velho. A minha mãe ajudou e correu tudo bem.