Lembro-me logo do primeiro incêndio. Acho que foi em 1978. Eu estava descansado em cima da cama quando o guarda-florestal passou a tocar a corneta e a gente tínhamos que ir. Foram vários incêndios.
Aos domingos eu nunca me podia ausentar porque os serviços florestais tinham muita intervenção nos incêndios. Portanto na altura não havia tantos bombeiros como agora há. Mesmo agora deste últimos incêndios como eu tinha conhecimento dos caminhos e tudo andava sempre à frente dos bombeiros a ensinar. Além disso também fiz muita vez nos postos de vigias. Quando faltava o pessoal contratado, que, às vezes, chateavam-se e se iam embora, o engenheiro lá me chamava a Arganil:
- “Ó Arménio, tens que ir para tal lado para vigia.”
E dei apoio há uns anos aos militares que vêm para a Selada das Eiras que estão lá três meses e eu tenho que andar com o carro, de noite ou de dia desde que haja incêndios.
Depois veio outro incêndio acho que há coisa de uns 20 anos, que veio do Piódão. Fiquei lá toda a noite. Depois já não vim para casa. O fogo andava fraco, só ao outro dia. A minha mãe já gritava, não sabiam de mim. Ao outro dia venho direito à casa florestal, depois desci pela encosta abaixo a ver se tinham ardido as ovelhas.
Mas este último foi o pior. Quase que nem se deu por ele. Eu andava a trabalhar em Vale de Maceira, andava na linha da frente do fogo a ajudar os bombeiros no que fosse preciso, quando a minha mulher me telefonou:
- “Olha que o fogo já passou para o lado do Sobral Gordo.”
E vim-me embora. Quando cheguei aqui isto foi sempre a andar. E não foi pior porque o vento deu e não chegou à ribeira, apagou-se por ele. Mas sempre com a minha preocupação estar à frente da Junta a ver se vinham máquinas e a telefonar para Coimbra lá para o centro para mandarem vir os helicópteros. Os helicópteros estavam a deitar água onde não deviam. Outras vezes vinham e não descarregavam, que devia haver avaria. Era a minha preocupação sempre.