O meu pai chamava-se Albano Eduardo. Era natural daqui. A minha mãe chamava-se Maria José e era do Vale d'Égua, mas veio para cá. Casou novinha, com 18 anos. O meu pai já era mais velhote. Conheceram-se numa festa. O meu pai ia daqui ao Vale de Maceira, onde havia uma festa todos os anos. A minha mãe foi a primeira vez que lá veio à festa. Elas eram muitas irmãs e depois era assim: conforme iam crescendo, iam namorando, casavam-se, saíam e ficava a mais nova a guardar a cabrada. O meu avô, da parte da minha mãe, tinha uma cabrada grande. Era do que eles viviam. Então, calhou à minha mãe vir à festa ao Vale de Maceira e o meu pai conheceu-a aí. Daí, namoraram pouco tempinho.
Nós éramos sete irmãos: seis raparigas e um rapaz. Eu sou a mais nova. Morreram três, já só temos outros três: duas raparigas e um rapaz. Já tudo se vai...
O meu pai foi trabalhar para Almada e levou as minhas irmãs. O meu irmão também começou lá a trabalhar, depois foi para a tropa para a ilha da Madeira e casou. A minha mãe esteve lá três anos, também. Lavava a roupa dos filhos todos e chegava bem. Não fazia mais nada. Era só em casa e ir às compras. O trabalho do meu pai e das minhas irmãs também chegava. Naquele tempo, tinha que chegar.
O meu pai trabalhava com carroças. Antigamente não havia camionetes. Ia levar a Lisboa o trigo que traziam lá de fora no tempo da guerra. Havia também os fornos da cal, que antigamente não havia nada de tintas. Era cal em pedra que eles faziam e depois iam distribuir por aquelas drogarias, por um lado e por o outro. Ainda foi para a Guerra da Espanha. Quando foi a guerra, ele foi lá andar a trabalhar também, mas andou lá pouco tempo.