Casei com 22 anos no dia 2 de Maio em Pomares. Duas horas e tal a pé. Não podia ser cá, porque, nessa altura, não tínhamos 700 escudos para dar ao padre. Era o que ele levava de vir cá fazer um casamento. Aqui havia igreja. Casou uma rapariga no mesmo dia, mas o meu marido não tinha dinheiro para pagar. O casamento dela foi cá e eu fui a Pomares. E o padre lá não me deitou a bênção, ainda tive que vir aqui e ele veio atrás da gente.
Leváramos a merenda, comêramos e depois viéramos. O meu marido ia de fato e de casaco. Eu ia com um vestido de lã azulinho, às pregas e com uns machozinhos, os sapatos também azul e um véu preto, normal. Chamavam eles uma mantilha. Foi em Maio, mas não estava assim muito quente. O vestido ficou novo. Eu quase que nunca o vesti. Depois, ainda fiz um casaco quando a minha filha era pequenina. Foi desmanchado o vestido e mandei fazer um casaco.
Os convidados foram poucochinhos. Só a família. Foram duas irmãs minhas, duas sobrinhas e os padrinhos. Os padrinhos da parte do meu marido era um tio dele e uma tia. Foi só os convidados dele. Do resto, ficaram cá à espera para comer o jantar. Era feito em casa. Na festa, matava-se uma rês. Chamavam eles carne fresca, que ia ao forno. Era chanfana, batatas cozidas, arroz de fressura. Fazia-se arroz-doce, fazia-se os coscoréis, as filhós, tigelada e pão-de-ló. Era só assim, mais nada. Era assim os casamentos cá.