Comecei a trabalhar quando saí da escola. Com 10 anos fui logo para o dia fora, a ganhar 3 e 500, naquele tempo. Depois fomos para 4 escudos. E nunca me faltou trabalho porque eu era muito possante, muito trabalhadora. Ainda hoje tenho pena de não puder trabalhar. Trabalhava na terra e a carregar lenha, carregar cavacas de madeira. Por isso é que eu estou doente da coluna. Muito trabalhei, muito trabalhei. E a apanhar azeitona com uma escada. Já cá não estão os meus patrões que eles defendiam-me nesse sentido até ao máximo grau. O que foi autor do Rancho do Manjerico, era meu patrão. Ia lá ao serviço e havia homens que não queriam ir acima da escada. Ele armava a escada e dizia assim:
- “Ó cachopa, anda cá. Vai lá cima fazer aquele poiso.”
E eu lá ia. Fazia tudo. Ainda hoje tenho pena de não puder fazer. Ia pia fora ao dia a quem me falava. Sempre assim. Ajudava a minha mãe quando havia trabalho. Havia épocas que não havia tanto. Mas quando havia aproveitava. Semear as batatas, sempre se semeou milho, acartar a lenha. Assim tudo o que é de uma casa. A gente precisava.