Tinha 7 anos quando fui para a escola, mas andei lá pouco tempo, porque a minha mãe tirou-me de lá. Se calhar, não cheguei lá a andar um ano. Nem o meu nome lá aprendi.
Quando fui para o Arsenal do Alfeite é que me obrigaram a escrever o meu nome. Tinha já 40 e tal anos. Aprendi com um senhor que estava na secretaria, o senhor Dias. Era secretário. Passou-me um papel e eu copiava. Ele quis obrigar a gente a fazer aquilo. Não foi difícil, até fazia bem. Agora é que me tenho relaxado. Como só assino de vez em quando... Mas lá, todos os meses tinha que assinar para receber.
A escola era na Moura da Serra. Aqui não havia. Íamos a pé, de tamancas. Usávamos tamancas, não era sapatos como agora se usa, nem botas. Atravessava a rua, subia o alto e descia lá pelo outro lado. Demorava aí três quartos de hora. A escola começava às nove horas. Eu ia às oito. As aulas eram quase todo o dia. Mas não tínhamos aquecedores nem nada! Tínhamos que levar a buchazita e assim comíamos. Quando era três, quatro horas, vínhamos embora.
A professora era boa. Era mulata. Uma bela professora, boa a ensinar. Para castigar, porque, às vezes, eles não estavam calados, punha-os de joelhos, contra a parede. Era o castigo que ela dava. Não é como agora, que eles viram-se aos professores. Não batia, o que estava era assim de joelhos. Mas era boa pessoa.
Ainda havia muita criança, mais que agora. Nessa altura não havia televisão, agora há...