Estava lá há pouco tempo quando se deu o 25 de Abril. No 25 de Abril, ainda passáramos um bocadito. Quando o meu marido saiu de casa, aquilo já estava a dar no rádio. Quando chegou a Cacilhas, já não apanhou barco para o outro lado. Só soube quando saiu de casa. E eu só soube quando cheguei ao trabalho e não deixavam entrar a gente. Voltáramos para casa. Depois, tínhamos que ir lá todos os dias ao portão. Estavam lá os guardas e tiravam apontamento do nome da gente. Não diziam porque não podia entrar, que quando pudéssemos entrar, que entrávamos. Estava tudo ali de prevenção. Foi quando roubaram armas de lá, o Tenreiro e essas coisas. Antes, nós íamos receber ao banco a Lisboa. Vinham lá fazer o pagamento. Quando foi do 25 de Abril, a carrinha foi perseguida por duas vezes. Como havia banco dentro no Arsenal, obrigaram a gente a abrir conta nesse banco. Tínhamos uma hora para lá ir receber, todos os meses. Depois, pagaram esses dias, tudo. Não nos ficaram a dever nada. Estivéramos 15 dias em casa. Foi tão bom. Às vezes, a gente ria-se assim:
- Oh, pá, não dar outro 25 de Abril!
E o 11 de Março? O 11 de Março então ainda foi... A minha filha pequena estava em casa. Eu morava ali perto do forte de Almada, onde havia tropa. Eles foram para estoirar aquilo tudo. A minha filha com medo em casa e eu lá no trabalho, que estávamos fechados e não deixavam sair a gente. Ela em casa, coitadinha, a telefonar. Eu tinha que telefonar para o meu vizinho, que era o senhorio, e dizia:
- Ó Isabel! Não saias de casa!
Era só o que lhe dizia:
- Não saias de casa para fora.
Eles ali a ouvirem nas alas por cima ali a mandarem. Oh, não! Foi um susto!