Depois fui para o Arsenal. Foi um rapaz que lá trabalhava, que era de cá, que me disse assim:
- “Ó pá, estão a meter pessoal no Alfeite. Porque é que tu não vais para lá?”
Digo assim:
- Ah, então, olha, inscreve-me lá.
Ia ganhar mais 700 escudos do que ganhava na escola.
Ele foi-me lá inscrever. O contínuo, que estava lá a fazer as inscrições, também era de cá. Estava lá já há muitos anos. A minha salvação foi ele agarrar no monte dos papéis que lá estava, agarrar no meu e em lugar de o pôr no fundo, pô-lo no cimo. Fui logo chamada para lá.
Aquela parte não era militar, era de manutenção. Tinha as oficinas, onde faziam e arranjavam os barcos. Ali fazia-se de tudo: coisas de madeira, coisas de ferro, canalizações, era tudo. Depois, havia aquelas secções de pessoal e cada uma tinha a sua secção para limpar. Nós estávamos num serviço que eram quatro mulheres. Foram-se reformando, ficáramos três e, no fim, acabáramos por ficar só duas. Mandaram-me para lá uma, coitadinha, a gente tinha que fazer o nosso trabalho e fazer o trabalho dela. Dissemos ao encarregado:
- Olhe, meta-a lá para donde quiser. Vá lá para outro lado.
Ele ralhava com a gente. Dizia assim:
- “Mas vocês não conseguem fazer.”
- Se a gente não conseguir, a gente depois logo lhe diz.
Era assim. Eu mais a outra senhora, que ela podia ser como minha mãe, começávamos uma numa ponta, outra noutra. Eles, às vezes, diziam assim:
- “Vocês andam zangadas?”
- Não! A gente não se zanga. É para ver qual é que chega lá mais depressa!