Na minha terra aconteceu eu ter de ir buscar a água para casa. Eu ia à água e depois trazia o cântaro à cabeça. Acontece, dava-se uma dor tão rija no pescoço que eu não aguentava. O cântaro lá ia para o chão. Para mal dos meus pecados parti muitos cântaros. Era assim a vida daquele tempo.
Por onde passa a água chama-se as levadas. Lá vai a água ter onde nós queremos. Está tudo adaptado assim. Temos um tanque. Tapa-se, o tanque enche e depois lá vai para o destino. A água, vamos supor, agora era minha, daqui a uma hora já era de outro. Era assim. Ou que a água fosse minha da parte da manhã até ao meio-dia. Da parte da tarde já era de outro vizinho. Isto já são umas coisas que vêm lá de herança. Já está assim orientado para regar agora um vizinho daqui a nada regar outro. Não é à balda. Cada qual tem o seu tempo.
Ainda hoje lavo a minha roupa toda à mão. Deus me dê saúde. Não tenho outros meios para a lavar. Foi sempre no tanque. É pequeno, mas também nem todas vamos lavar ao mesmo tempo. E também já nem toda a gente vem lavar. Além de sermos poucos. Já se têm juntado quatro ou cinco, mas é raro. Cada qual vai quando pode. Não é quando quer. No meu tempo usava-se o sabão para lavar. Agora já há os detergentes.