Quando vim, ainda se criavam porcos e fazia-se a matança. Cada um que tinha o animal, matava só mesmo para si. Só se juntava a família praticamente. Não íamos a casa uns dos outros. Matávamos à faca e punham o sangue, para ir para o chouriço. Matar, nunca matei, mas ajudar, ajudei. Agarrava na corda. Às vezes, no curral, iam só duas pessoas agarrar nas orelhas. O outro estava à porta a ajudar para agarrar no rabo. Trazíamos com uma corda pelo focinho, puxava-se o banco e metia-se por cima do banco. O que estava na corda levava a corda em volta do pescoço do focinho, outro segurava nas patas dianteiras, outro nas traseiras e depois o matador só tinha que espetar a faca. Outra pessoa por baixo, com o alguidar, aparava o sangue. O porco ainda estrebuchava um bocadinho, ainda tinha que ser pessoal para segurar. Eu não estava habituado. Uma pessoa não sabia. Sabia o que era a matança do porco, mas fazer, fazer nunca tinha feito. O porco a berrar, fazia uma confusão... Pelo guincho e pela força de ele fazer, sempre a puxar pelas pernas... É diferente. Depois, tinha de queimar os pêlos com uma carqueja para os raspar com uma faca. Depois, desmanchava-se, botava-se-lhe a tripa. Às vezes, havia pessoas que a tiravam e iam lavá-la à ribeira para fazer as chouriças. Outras pessoas, deitavam as tripas fora. Guardavam a parte da bexiga para fazer o bucho e as tripas iam fora. Depois, compravam tripa seca para fazer chouriças. Depois, ainda se salgava e punha-se no fumeiro.
Por essa altura, comíamos do que criávamos em casa e do que vinha de fora. A carne é bastante diferente, porque cá, é criado só à base de legumes e na pecuária é um bocado diferente. É à base de farinhas. O que a gente cria cá é muito melhor, muito diferente. É como os frangos. É diferente, também. A carne que a gente cria é mais rija e mais saborosa que a dos aviários. É criado diferente. A gente cria, sabe o que é que lhe deita e nos aviários é rações, é vitaminas, metem produtos nas águas para eles não terem doenças. É diferente.