Andei na escola. Andei no Sobral Gordo dois anos e depois na Mourísia até à quarta classe. A escola era boa. Era mais ou menos como é agora. Na questão das letras era como agora. A escola era talvez, 20 metros por dez. Era numa casa de habitação e era por baixo, no rés-do-chão. Não era assim uma escola feita mesmo para dar aulas. Era uma casa de habitação.
Quando andava no Sobral Gordo demorava talvez uma hora a pé. No Inverno tínhamos que ir com umas capuchas na cabeça e um chapéu. Tivesse o tempo que estivesse a minha mãe não nos deixava estar em casa. Às vezes, chegávamos lá encharcados e a professora mandava-nos embora. Mas já tínhamos ido à escola. Às vezes, ela tinha pena da gente e dizia:
- “Olha vão-se embora!”
E a gente voltava. Depois dizíamos à mãe que a professora nos mandou embora e ela dizia:
- “Quando eu falar com ela vou-lhe procurar.”
Depois ela procurava e ela dizia que sim, que nos mandou embora. Se a gente tivesse mentido já sabia que... A nós não nos ensinou a mentir, tínhamos que falar a verdade.
Os professores, naquela altura, eram bons. Por acaso não eram muito severos. Ouço falar alguns que sim mas, eu não. Lá isso não tenho razão de queixa. Não me lembro de nenhuma asneira que tenha feito. Para aprender era mais ou menos. Não era de primeira mas talvez não fosse das últimas. Mas também era assim meia pacata. Eu recordo-me, mesmo quando a professora às vezes ralhava. Dizia:
- “Olha isto está mal.”
Ensinava e eu ia fazer e ia lá mostrar outra vez. Mas não dizia nada. A professora comigo não ralhava muito. Só tinha que fazer. Tinha que acertar.