A tigelada é um doce que a gente faz. Se for feita no forno onde se coze a broa é mais saborosa, mas se for no de gás, já não, porque acumula mais o cheiro dos ovos. A gente põe o leite, os ovos e o açúcar e põe a cozer num tacho, no fogo. Para quem gosta, tigelada é bom, é como tudo.
Coscoréis agora até há muito a vender, esse doce. É amassado, farinha com ovos. Há quem bote um bocadinho de leite, de azeite e açúcar e amassa depois. São lêvedos, fintos e depois estende-se no azeite, quando está a ferver, e estão feitos os coscoréis. A minha mãe fazia assim. Ficavam bons. A gente também comia qualquer coisa. Não havia reclamação.
E carne havia, pelo menos as dos rebanhos. Peixe comprava-se mais era sardinha. Sardinha e bacalhau era o que a minha mãe comprava mais. A nós havia mais que uma sardinha a cada um. Em minha casa a gente comia quantas queria. A minha mãe ia a todas as feiras de Avô. Precisava de compras, ia e trazia sempre sardinha. Às vezes trazia aos dois centos de sardinha. O que não comprava daquela grande era da média. Depois quando ela chegasse e que a gente estivesse em casa fritava logo um bocado delas. Era tanto quanto a gente queria comer. Até não querer mais. Nunca foi por conto. Não havia o tens que comer tantas. Eu mais a minha irmã já temos falado que, às vezes, ainda comemos menos que nessa altura porque a gente hoje quase que come por conto. Diz-se que não se deve comer muito e a gente, às vezes, come e põe duas ou três ou quatro para cada uma e chega, das médias. Nessa altura, até comia mais se lhe apetecia, se não apetecia também não comia. Realmente nós fomos bem criados. Não haja dúvida que nunca quisemos comprar um bocadinho de pão, nem comer um bocadinho de sopa, ou assim, dentro do que se cultivava, que não fosse de fartura. Eu fui a mais nova mas os meus irmãos mais velhos dizem a mesma coisa.