Uma vez até parti a testa quando fui levar o comer ao meu pai. Naquele tempo é que era um respeito. Caí, bati com a testa numa peneda, ainda aqui tenho a cicatriz. A minha mãe, era assim, fazia a sopa, havia umas tigelas grandes, chamadas de pó de pedra, não eram assim só barro somenos, e levava as batatas e o conduto ali e levava a sopa. E vinha com o cestelho. Ora uma criança pequena, não sei a idade que tinha, já não era assim muito pequena mas ainda trazia uns paus às costas, aquilo ou lá me empeçaram ou se me enfiou o artelho nalgum “canhoto”, caio para além, ainda disse assim:
- Ó pai, não me bata.
Ele começou a chorar. Tirou-me o lenço da cabeça, foi molhá-lo, havia lá água, pôs-mo, chegou aqui. A minha mãe:
- “Ai Jesus então ela caiu! Olha que ela se calhar cegou.”
Eu não via de um olho. Depois a minha mãe punha-me mel com ferrugem, por cima. E punha-me um trapo e andava assim com o olho. Um dia fui ali para a fonte e tirei-o. Estava lá uma mulher e começou a dizer-me:
- “Ai Diamantina como tens o teu olho! Ai Nossa Senhora.”
Comecei a chorar, fui-me embora a gritar. Enfim, não gostei dela me dizer aquilo. Porque eu não ia ao espelho, quer dizer, não sabia como é que andava. A minha mãe tratava muita coisa assim. Se houvesse um pico, se houvesse uma coisa qualquer, vinha cá muita gente. E hoje pedem-me o mesmo. Vem muita gente para tirar picos. Curou a ferida com mel e ferrugem. Ia buscar ao forno. Amassava-se aquilo e punha-se, como o sangue pisado. Porque aquilo fez-se negro foi do sangue estar por ali pisado de roda.