Tínhamos milho. Até vendíamos. Fazíamos a broa. A minha irmã tinha uma sorte com a broa que era uma maravilha. Ficava toda “esfalocadinha”, parecia trigo. Ainda melhor que agora o trigo. Moía-se no moinho, movido a água. E quando era no Verão a água era pouca. Tínhamos de esperar que a água fosse pela ribeira abaixo para se moer. Depois trazia-se a farinha, peneirava-se, numa peneira. Depois fazia-se a massa, por exemplo, queríamos cozer amanhã, fazia-se hoje à noite a broa de milho, uma broa ou duas, com o crescente. Tínhamos sempre o crescente. Ali com aquela massa botava-se um bocadinho de farinha de centeio, que tínhamos sempre muito centeio, depois ao outro dia aquecia-se a água, acabava-se de peneirar, amassava-se bem amassadinha, e ela em começando a levedar, botava-se o lume ao forno. Às vezes, ainda lhe dava uma volta, outras vezes botava-se para o forno. Estava o forno quente, pronto. E fazia-se, às vezes, uma bôla. Punha-se sardinha mas a minha mãe dizia assim:
- “Sardinha põe-se por cima. No meio dela fica branca parece que é crua, não a quero.”
Metia-a no meio da massa. Outras vezes era carne assim toda aos bocadinhos, outras vezes era chouriço. Fazia-se muita coisa. Às vezes, batatas descascávamo-las e púnhamo-las também num tachito com a cebola, aquilo era um cheirinho. Era assim que se fazia. Mas a gente faz o comer à base daquele tempo. Também tínhamos muita castanha, muita castanha.