Também brincávamos mas pouco, porque tinha que andar com eles, com os mais novos. Quantas vezes eu queria dançar, que eu para dançar fui sempre assim e, às vezes, os rapazes diziam:
- “Só se o levarmos ao colo.”
Às vezes, levava-o ao colo e pronto lá andávamos. Mandava, às vezes, uma das minhas irmãs:
- “Olha vai até ali.”
Eu ainda não tinha saído da porta e ela já lá tornava a estar.
Fazíamos jogos. Umas vezes era à barra, outras vezes era à cisca barrisca, uns atrás dos outros. À barra punham-se uns ao pé dos outros, depois:
- “Barra, barra!”
Depois a gente fugia e ia à procura deles, às escondidas a ver onde estavam. Era assim as brincadeiras. Ao fim já havia outras. A cisca barrisca era assim: estavam todos em carreira e depois diziam:
- “Cisca barrisca.”
Escapava cada um para o seu lado, depois aquele que o achasse era aquele mesmo que tinha que vir para lá. E estava de olhos fechados, a falar tinha de estar com os olhos fechados.
Brinquedos tínhamos poucos. Toda a gente tinha poucos. Jogava-se ao botão, punha-se o botão numa cova, depois dava-se uma castanhada e metíamo-los. Tínhamos vezes que era a cova cheia de botões. Arrancávamos à roupa em casa. Eram assim as brincadeiras.
Eu tive uma boneca, a minha mãe foi à Senhora das Preces, e lá comprou-me umas bonequelhas, andávamos com aquilo. Depois, às vezes, os mais novos arrancavam-lhe ainda as pernas. Era uma arrelia. Depois a minha mãe fez-me uma boneca de trapos, por assim dizer, e era muito boa. Eu gostava muito da boneca. O meu pai que era muito brincalhão, tínhamos um caldeirão assim de cima de onde a gente punha as panelas, eram de ferro, naquele tempo as panelas eram de ferro, depois pôs lá a boneca e andava:
- “Olha ela a dançar, a dançar.”
Ao fim caiu para o lume, começou a arder, eu comecei a chorar pela boneca. Depois ele fez-me uma. A minha mãe dizia:
- “Olha agora hás-de-lha fazer.”
Mas já não era tão “azadinha” como aquela. Com os gravetelhos, lá os andam a partir e a alinhavar os trapos e a cozer.