Eu gosto de viver na Mourísia. Onde formos criadas, se tivermos amor, somos elogiadas. Ande por onde andar, mas aquela ideia nunca se vai embora. Já aí há muita coisa. Puseram o muro em cima que não estava feito. E puxaram também a estrada. Agora a gente tem dinheiro, primeiro não tínhamos dinheiro não tínhamos nada, mas hoje temos dinheiro e há carros, camionetas. Também temos o castanheiro. Vem muita gente vê-lo mas também não tem grande acesso. Para mim não tem nada de especial porque até lá andou o lume dentro, já está para velho como eu. Mas pronto ainda dá boa castanha, mesmo assim dá boa castanha. Não sei como é que foi, mas andava aí um rapaz, que já morreu, e a namorada e ao fim a umas tantas viram aquele clarão e disseram:
- “Se calhar andam ali lume nas palheiras ali dos portos.”
Depois lá foram ver à eira, é que viram que andava lume no castanheiro. Foram buscar a água e lá o apagaram. Disseram que ele se calhar vinha a fumar e que botou para lá o borrão do cigarro e ao fim acendeu-se. Porque ele é oco. Não sei se foi, se não foi, eles é que sabem.