A minha casa era uma casa velha, de pedra e de madeira, tudo antigo. Era de xisto preto. Toda assim por fora e por dentro. Eu tinha sete irmãos e a casa tinha três quartos. Dormiam as raparigas e os rapazes. Eu como sou a mais nova dos meus irmãos, que eu me lembre já estavam só dois rapazes. Os outros irmãos já tinham saído, já tinham ido para Lisboa. Então dormiam esses dois e eu dormia sozinha. Tinha a loja e dois andares. Era uma quinta, embora fosse agregada à Fórnea mas era uma quinta ainda distante. Ainda era uma casa grande. Só que velhinha. O andar de baixo eram duas salas onde a gente guardava as coisas, batatas, o que a gente cultivava. Por cima era uma cozinha, a sala e os quartos. O de baixo era a arrecadação do pasto e do vinho.
Casa de banho não havia. Faziam-se as necessidades num curral fora de casa. Tomar banho era numa bacia. Não havia água em casa. Íamos à ribeira apanhá-la fria, gelada.
Cozinhar era na lareira. Era tudo ao lume, em panelas de ferro, primeiro. Depois começaram a vir as de alumínio. Mas, geralmente, eram aquelas de ferro com umas patas, a gente chamava pernas, eram de três pernas. E era assim. Comia-se sopa, batata, feijão. A gente criava porcos, durante o ano. Ia-se comprando um peixito de raro em raro. Quando iam por exemplo a Côja, ou a Arganil, às feiras. Mas muito raro porque antigamente iam a pé. Ultimamente, assim que abriram as estradas, já iam de carro. Nas camionetas. Vinham às quintas-feiras, iam lá então. Compravam lá tudo, roupas, mercearias e assim essas coisas.