A matança era no fim do porco estar gordo, é que a gente o matava. Comprava-o a Avô, a Oliveira, era onde calhava. Ia comprar, trazia um porquito e vínhamos a pé de lá para a Mourísia com ele, não havia camionetas, não havia estradas. É verdade. Matava-se com uma faca, éramos três homens. Entrava um, dois, para dentro do curral e quando calhava ia outro, três, quando o porco era grande iam três. Quando ele estava seguro, ia com uma corda e enfiava-lhe no focinho e puxava-o para fora. Depois numa bancada em frente deitava-se o porco. E depois chamuscava-se. Depois no fim de estar chamuscado, rapava-se, lavava-se todo bem lavado, depois ia-se pendurar no chambaril. Depois, começavam a abrir, o sangrador é que o abria, que tirava as tripas fora e as mulherzitas agarravam num alguidar com o enchido e iam para a ribeira lavá-los. No fim de estarem lavadas traziam-nas para casa. Deixavam arrefecer a carne do porco pendurado. E depois desatavam para baixo e começava-se a desmanchar, chamava-se desmanchar, naquele tempo era assim, tirava-se as partes, aquilo tudo. Desmanchava-se para desfazer-se em bocados. Depois tirava-se aquelas fêveras que eram melhores para os enchidos. E depois dali cortavam para um alguidar, botavam-lhe sal dentro do enchido. Ficava um enchido que era uma maravilha. Levavam daqui, às vezes, para Arganil, era um enchido que era uma maravilha. Os presuntos eram a semente para comprar outro porco. Era o dinheiro que havia. Pouco dinheiro. Vendiam esses presuntos para comprar o outro.