Aprendi com uma prima minha a fazer umas roupitas para a gente. Eram as nossas histórias. Nem tinha máquina nem nada. Depois, mais tarde, é que comprei uma. Mas primeiro trazia tudo à mão.
Também tinha tempo para brincar. Às vezes, quando vínhamos de guardar o gado, brincávamos uns com os outros lá nos campos. Ao domingo a rapaziada ajuntava-se e lá se passava a mocidade. Nem faziam grandes jogos. Os rapazes é que lá se juntavam e diz que jogavam no fito. Punham uma pedra lá na rua, faziam uma cova e daí botavam com um pau para dentro da cova como agora fazem os jogadores da bola. Dizia-se que era o fito. Os rapazes é que faziam isso. A gente jogávamos o anel, uma coisa simples que punham entre as mãos.
Não tive brinquedos. Nem para os meus filhos. Não havia brinquedos naquele tempo. Só faziam umas bonecas de farrapos para se entreterem. Fazíamos com pano, uma agulha e uma linha. A cara a gente fazia de qualquer maneira. Às vezes, para fazer os braços, púnhamos um bocadito de pau com um bocado de linha. Fazíamos aquilo tudo quando éramos assim mais novas, quando tínhamos vagar. Quando andávamos lá a guardar o gado, assentávamo-nos e fazíamos. Para os miúdos se entreterem era assim que a gente fazia as bonecas.
Nessa altura, havia lá na Mourísia mais crianças que agora. Donde me eu criei, éramos seis. Morreu um, mas já morreu de idade. Já tinha feito a quarta classe quando morreu. E havia lá mais três casais que também tinham aos quatro, aos cinco, seis, sete filhos. Havia lá uma pessoa que tinha sete. E, claro, ajuntavam-se todos quando tinham vagar, aos domingos. Quando era pela semana, andávamos no campo a ajudar os pais.