Quando pude, criei sempre porcos. Quando se matava o porco, era uma alegria. O dia da matança do porco juntavam a família toda. Juntavam-se os homens, estendiam-no num banco, lá o matavam, chamuscavam-no, penduravam-no, abriam-no e tudo. Faziam aquilo tudo. Mas alguns, para os agarrar, ainda se viam parvos. Às vezes, eram três homens, outras, mais de meia dúzia agarrados ao porco. Aquilo nem todos sabiam. É preciso saber onde dar com a faca, mas nem todos queriam saber. Iam lá dois ou três que se ajeitavam e depois convidavam os outros. Depois, cozinhávamos torresmos na cozinha para eles comerem.
Naquele tempo, metiam aquelas peças maiores, os presuntos, numa salgadeira. E o resto fazia-se enchido e pendurava-se a secar como agora fazem os fumeiros. Eu gostava de tudo, mas agora nem os posso comer. Estou proibida de comer carne. Mas a carne de antigamente era muito diferente de agora. Salgava-se na tina, parecia que estava amarela e era gostosa. Era melhor que agora nos frigoríficos. Não havia luz, nem havia nada. Conservavam-na numas panelas com azeite e iam comendo por o ano fora.