O meu pai chamava-se António Maria Lopes. Era de cá, de Chãs d'Égua. A minha mãe era Maria da Piedade dos Anjos. Também nasceu em casa, cá na terra. Dantes, ninguém ia ter os filhos aos hospitais.
Andavam na agricultura. Iam trabalhar no campo. Era a vida deles, dantes. Semeavam batatas, feijão, milho, centeio... Tínhamos cabras, ovelhas, coelhos e galinhas. Era a criação que a gente tinha para poderem comer. Porque dinheiro, de onde é que ele vinha? Não havia reformas, não havia abonos. Agora são pequeninos, mas há os abonozitos dos filhos. Dantes, nem os filhos tinham abonos. Não tinham nada. Os terrenos, uns eram nossos, outros eram de aluguer. Cultivavam e no final tinham que dar alguma coisa aos donos: um tanto de milho, um tanto de feijão, um tanto de azeite. Também apanhavam a azeitona. Costumava ser um terço: eram duas partes para quem cultivava e uma para o dono das terras. Só emprestava as terras e ficava quase com tanto como quem andava todo o ano a trabalhar.