Nunca emigrei. Cá nasci, cá fui criada e cá estou até se acabar a vida. Sempre cá estive. Sempre a trabalhar no campo. Agora, nem no campo trabalho. Não posso.
Fui vendo as pessoas sair da terra. Trabalhavam lá em Lisboa. Todas diziam:
- “Ai, nós, em nos reformando, já para cá viemos.”
Vieram dois casais. Desses dois casais, uma senhora já morreu há não sei quantos anos. Ficou só o marido, que está com 86. Já está velhote. Do outro casal, que eram os meus tios, morreu o meu tio faz dois anos para Março. Ficou a mulher com 90 anos. Os outros vêm cá, muitas vezes durante o ano, até. Às vezes, aos fins-de-semana. A maior parte também já está reformada. Só que não param cá muito tempo. Estão oito, 15 dias e aí vão eles. Dizem que lá é que se está bem. Para tomarem o café, é só descer as escadas, têm logo o café à porta. Se precisam de alguma coisa para comer, telefonam à senhora do supermercado, que lhes vai lá levar as coisas. Dizem que lá é que se está bem. Têm reformas boas, dá para tudo. Têm as casinhas deles. Não é preciso pagar renda. Aqui, não. Aqui, no Verão, está-se bem. Mas no Inverno, às vezes frio e a chover.