O meu pai chamava-se António Bento de Sousa e a minha mãe, Maria do Nascimento. O meu pai trabalhava há um tempo em Lisboa, porque aqui não ganhava. Não dava nada. Não havia onde se ganhasse dinheiro nenhum, nem cá havia dinheiro nenhum. Era só o que a gente cultivava para comer. Então, iam para Lisboa. Depois, como abriu as Minas da Panasqueira, que teve uma grande força, foram para lá trabalhar para vir algum, nessa altura. Voltou para aqui. Era mineiro dentro das Minas, debaixo da terra. Os pedreiros a tirar aquelas rochas para depois poderem tirar o minério. Ele diz que viu, pelo menos, dois homens com as pernas partidas. Estavam no hospital, que era inglês, era muito bom. Uma vez, até morreu um homenzinho daqui. Ganhava-se um bocadinho, pouco, mas já dava alguma coisinha. Com o que a gente cultivava, já dava para ir amparando a vida.
A minha mãe, coitadinha, trabalhava no campo e cortava mato e lenha. Andava aqui a cultivar as terras. Nós também já ajudávamos, eu mais os meus cinco irmãos. Trabalhávamos nas terras, tínhamos animais... Tínhamos cabras e ovelhas para dar leite e, às vezes, cabritos. Era o que a gente fazia: tratar dos animais e das terras. Milho, batata, feijão, couves, cebolas, alfaces, feijão verde era o que a gente cultivava por aqui para se comer. Havia frutas, maçã muito boa, peras, as uvas e figos daqueles do São João. Era a nossa fruta cá. Às vezes, íamos regar de noite aqui para baixo. A gente tinha fome, ia até às videiras e às peras e comia tudo. Havia fome, tenho que dizer. Os meus pais trabalhavam muito, tínhamos o pãozinho, mas não havia assim muita fartura. Nos éramos seis e era poucochinho para a gente se alimentar.