Tínhamos o porco na loja. Depois, vinham os homens. Já havia pequeno-almoço para eles. Nessa altura, havia sardinha frita, castanhas cozidas, aguardente com mel... Comiam e iam à loja matar o porco. Havia uns homens a segurar o porco e outro a matar. Depois, chamuscava-se o porco. Limpava-se limpinho, pendurava-se e tirava-se as tripas. As senhoras iam tratar delas, lavá-las aos ribeiros, para fazer enchido. Os homens deixavam o porco ficar ali pendurado. Ao outro dia, era desmanchado. Fazia-se chouriças, fazia-se farinheiras, fazia-se chouriço de carne e fazia-se mais uma outra qualidade: nós, cá, chamávamos chouriças de bofes e era bom. Os bofes são os pulmões do porco. Tinha um bocadinho de bofes, mas tinha muita carne, aquela carne mais “ensanguada”. Metíamos-lhe outras carnes, mas aparecia aqueles bocadinhos de bofes. Era muito bom. Eu gostava muito. Depois, fazíamos o bucho. Esse bucho enchia-se com sangue, febras, arroz, mas ficava temperadinho com muitas coisas, cominhos e alhos e assim. Enchia-se, cosia-se e ia ser cozido. Então, pendurava-se a secar. Quando era um dia especial, cozia-se e era outra festa aquilo cortadinho. Era bom. Chamava-se o bucho. Também fazíamos disso. A acompanhar, fazíamos os rojões. Nós chamamos cá de outra maneira. Chamávamos torresmos, que se faziam do porco. Naquele dia da matança, é um bocado de fígado ou um bocado de fêveras e um bocado de alho. Era frito e chamavam-se os torresmos.