Eu ia à escola, mas depois a minha mãe não me deixava ir, porque era a mais velha. Tinha que tomar conta dos miúdos. Depois, passou-se o meu tempo. Fiz uma primeira, só. Sabia fazer o meu nome e pouco mais. Escrevia com um lápis de pedra, uns lápis que se compravam, tipo giz, mas em pedra. Era para escrever numas pedras de lousa com um caixilhozinho em volta. Era giro. Havia muitos miúdos. Havia uma professora que era muito engraçada. Ensinava-nos a cantar. Estávamos a fazer umas coisinhas de costura, croché. Era muito engraçada. Uma canção que ela ensinava era assim:
“Dinamarca e na parda
Finlândia, cabra fatal
Prefere sangue e espingarda
E o cão de guarda é Portugal
Prefere sangue e espingarda
O cão de guarda é Portugal.”
O edifício era além na Malhada. Era frio. No Inverno, era muito frio e a gente descalça. Não havia “roupados”, não havia sapatos.