Fui para Lisboa, porque o meu marido trabalhava lá. Custou-me um bocadinho. Foi um bocadinho complicado. Eu tinha aqui uma casinha, que nem tinha luz, nem tinha água. Já estava habituada a andar aqui à vontade. Lá, estava num quarto e o meu marido estava a trabalhar. Vínhamos cá de ano a ano. Nessa altura, não havia carros, não havia nada. Havia muita gente, mas naquela altura ninguém tinha carro. Tínhamos que vir a pé. As primeiras pessoas que tiveram aqui um carro fôramos nós. Tínhamos um Datsun 1200. Nem vinha para aqui. Vinha pela serra fora e ficava em cima. A gente, às vezes, também trazia coisinhas para comer. Cá havia pouco e a gente trazia de lá coisinhas para comer.
Depois, tive que trabalhar, já foi melhor. Comecei a trabalhar a dias. O meu marido trabalhava na CUF, que agora se chama Lisnave. Eu fui para ao pé dele. Tinha que ajudar para ganhar para pagar o quarto. Os quartos eram caros e os ordenados eram pequeninos, nessa altura. Mais tarde, empreguei-me também lá na CUF, já tinha nascido o meu filho.
Em princípio, trabalhava na cozinha. Era cozinheira, fazia os preparos e ia servir os senhores à mesa. Mais tarde, foi só cozinha. Deixou de haver as senhoras a servir à mesa. Já havia o self-service. Fazia só preparos e cozinhados. Chegamos a ser lá 200 mulheres, na Margueira. Todas lá a trabalhar. Havia muitos homens também: 10 mil na Margueira por aí fora. Trabalhei lá 28 anos e o meu marido 36. Agora, estamos reformados de lá.