Em Chãs d'Égua, a gente não fazia caso da espiga na Quinta-feira de Ascensão. Mas íamos à missa e guardava-se, que era um grande dia santo. Guardávamos os dias santos todos. O mês de Junho era o mês dos dias santos: dia de Santo António, dia do Sagrado Coração de Jesus... Agora os padres deram-nos dispensados por causa dos empregos. Não podem dar às pessoas que estão a trabalhar dia santo de guarda. Mas a gente guardava os dias santos todos. Quer dizer, se calhasse água a regar, a gente ia regar e tínhamos que tratar dos animais. Mas o resto não. Não íamos para a agricultura trabalhar nem roçar mato. Eram dias santos. E Quinta-feira da Ascensão, diziam os antigos, era um grande dia santo de guarda! Não sei explicar (porque já estou esquecida de algumas coisas), mas acho que foi o dia que Nosso Senhor subiu ao Céu. Diziam assim os antigos:
- “Se os passarinhos soubessem quando é Quinta-Feira de Ascensão, não punham o pé no ninho nem no chão!”
Andavam sempre a voar de contentes.
No dia 3 de Maio, só se via homens com as cruzes às costas a porem aí nas fazendas. Havia uns raminhos que benziam no Domingo de Ramos, quando a gente leva o ramo à missa, e daquele ramo tiravam um bocadinho. Faziam uma cruz com aquilo e toda a gente ia pôr as cruzes na agricultura, onde tinha as terras para amanhar, onde semeavam o centeio, em todo o lado. É raro, porque há pouca gente, mas ainda há quem faça cruzes para pôr nas terras. Era a fé que tinham de Nosso Senhor abençoar os campos. Hoje já não há tanta coisa disso.