Em todas as terras, há um dia de santo. E naquele dia fazem a festa. Aqui na Benfeita é a festa do dia 15 de Agosto. Era em honra da Senhora da Assunção. Ai, tanta vez aqui vim! Ia o padre, vinha a música e dava uma arruada por as ruas. Depois faziam a procissão. Enfeitavam os andores e saía a procissão. Davam uma volta, iam por aqui, lá por além, por cima e recolhiam outra vez. Iam pôr os santos no lugar deles. Naqueles dias, ajunta-se aí muita gente e os homens levam os andores.
Antigamente faziam aí bailaricos e tudo. E até hoje ainda há, quando fazem. Ajuntavam-se, ali no Areal, a tocar e a dançar até de noute. Mas não é de rock nem de nada. Agora é daqueles músicos como há no Barril, em Côja, em muitos lados. É aquelas bandas de música, é os conjuntos, é tudo assim. Mas, naquele tempo, era a toque de uma concertina ou de uma guitarra que faziam a festa. É diferente. Eu ia sempre! Pois não dançava? Havia sempre liberdade para a gente ir dançar. Iam chamar as raparigas e iam dançar! E, se às vezes dançavam duas raparigas, combinavam dois rapazes e iam lá ter com elas. Era a desapartar. Cada um dançava com sua. Às vezes, até pediam as raparigas em casamento e aí namoravam. Umas vezes, deixava-se, outras vezes, casavam-se. Quando íamos daqui para cima da Aldeia das Dez, havia lá uma romagem que era a Senhora das Preces. A gente arranjava lá namoros todas as vezes que lá íamos. Andávamos toda a noute a dançar com os rapazes. E depois nunca mais os víamos... Era assim a antiguidade. Agora já não é assim.
Mais tarde, minha filha já era nascida, formou-se um rancho nas Luadas. E a gente íamos cantar às terras, às festas. Chegávamos ali ao pé da igreja, formávamos ali em frente e dizíamos assim:
“Aqui vem um povo humilde
À presença de Jesus
Pedir amparo na vida
Para levar sua cruz.
Depois ao terminar
Os passos que deu na terra,
Porque no Céu vai encontrar
A glória por que espera.”