Eu tenho dois rapazes e duas raparigas. Ainda ensinei a um filho, o rapaz mais velho, o trabalho de alfaiate. Saiu da escola, fez a quarta classe, então meti-o ao pé de mim e aprendeu. Depois foi para França. Eu não queria que ele fosse. Para comer a gente ganhava na aldeia. Não era preciso ir para fora. Mas meteu-se aí com um tio. O tio não sabia ler nem escrever e queria levar alguém para escrever uma carta para a mulher, minha irmã, e para a família. Depois, lá foi. É que mo tirou e foram. Mas contrafeito. Numa noite diz-me ele:
- “Deixa-me ir, deixa-me ir...”
Veio cá o meu cunhado e disse:
- “Ó cunhado, deixe ir o Carlos comigo que eu tomo conta dele.”
Eu referi-me sempre que ele era muito novo para ir para o mundo e de mais a mais para a França, que estava longe dos pais, da nossa vigia e tudo isso. De maneira que, depois de tanto de os ouvir, chateado disse:
- A partir deste momento faz aquilo que quiseres! Mas, se te encontrares mal, nunca te venhas queixar aos teus pais. Tomara eu que os meus pais nunca me deixassem ir tão cedo para o mundo como me deixaram.
Mas a vida era outra. Depois ele começou-se a rir da palavra que lhe dei. A mãe começou a chorar e eu também. Estávamos a comer e as lágrimas a cair por baixo. Não esperava que ele tão cedo me deixasse. E tinha-me custado a ensiná-lo e já estava na cadeira para se governar. O meu filho andou em França 14 anos. Depois veio, juntou-se com o outro que estava em Lisboa e lá formaram uma sociedade, uma empresa: Sousa e Sousa, Lda., do concelho do Seixal. Mas depois apareceu-lhe uma doença na cabeça, que em pouco tempo deixou a terra.