O primeiro correio do Piódão para Chãs d'Égua, fui eu que fiz. Tinha 6 para 7 anos. O meu pai foi lançar-me no correio, em Arganil. Quem fizesse por menos é que ficava com ele. E havia um homem no Piódão que conduziu o meu pai. Disse:
- “Ó Manel, vais tu te lançar no correio. Tens lá miúdos em casa e aguentas com aquilo algum tempo.”
E eu era o mais velho. Era muito poucochinho dinheiro. Eram só 6 tostões ir de Chãs d'Égua ao Piódão e voltar. E então, como eu era o mais velho dos filhos, comecei a fazer o correio. O meu pai era o responsável e mandava fazer os filhos. Eu, quando cheguei aos 9 ou aos 8 anos, já não me deixaram fazer o correio. Já era um irmão meu que já ia fazer, porque eu já podia ir buscar uma lenha ou um mato ou qualquer coisa, já me achavam mal empregado. Então, ia ao mato com os meus pais e mandavam o meu irmão fazer o correio, porque não era preciso força. Ia com a mala ao ombro. À medida que os meus irmãos iam crescendo, iam fazendo até à minha irmã mais nova. Todos passaram pelo correio. Em podendo com a mala:
- “Vai lá fazer o correio!”
E ela ia. Nessa altura, quando ela começou, já eu tinha 20 anos. Talvez já tivesse ido à inspecção militar. Mas todos passáramos pelo correio. Saía da estação do Rossio um comboio, parece-me que era às sete horas da noite. Ao outro dia, ao meio-dia, estava cá em cima. Era rápido. Naquele tempo, todo o mundo cumpria à recta. Era diário, até ao domingo. Não havia falhas. Nem se um dia estivesse a chover muito. Tinha de andar à mesma. A pé para o Piódão. E, às vezes, os barrocos cheios de água até aos joelhos. Mas tínhamos de andar sempre. Eu e os meus irmãos. Depois deixáramos de fazer o correio ao domingo. E agora, já nem há correio. Agora é um carteiro de Vide. Traz o correio da Vide para cima, dá a volta pelas serras, vai para o Torno e outra vez para a Vide.