Todos os anos, em Dezembro, se mata o porco. Ainda este ano matei um. Veio cá a filha, os netos e o genro e matou-se o porco. Mas é o meu marido que lá o cria e lá o mata. É o homem sempre. O meu marido matava, o meu sogro matava e mais homens matavam o porco. Agora já é pouco que fazem, mas eu ainda tenho feito todos os anos. É só para a família. Cada um cria para si, porque aquilo ainda fica muito caro. A gente dá aí 25, 30 contos por leitãozito. E depois para o criar até ele ser grande? É com abóboras, milho e couves. Mas também compra-se-lhe uma ração. Ficam caros. E antigamente era um ano que se demorava a criar um porco. Agora criam-se mais depressa, mas não serão tão grandes.
No dia da matança, chamavam quatro homens ou cinco. Então, agarravam-no, prendiam-no ao banco, ia um com a faca e matava. Queimavam-no com umas carquejas, lavavam-no e depois dependuravam-no. Depois abriam-no, tirava-se-lhe as tripas e tudo e iam cortando. Ainda hoje é assim.
As mulheres apartavam as tripas e iam lavá-los. Depois migavam a carne e faziam-se as chouriças. Ainda este ano as fiz. As chouriças vão-se lavar. Ficam assim ainda compridas. Então, a gente corta à medida como quer as chouriças, se a quer grande, se a quer mais pequena. Ata-a numa ponta e tempera-se a carne. Está dois ou três dias temperada nuns alguidares. Põe-se um bocadinho de vinho, colorau, pimenta... e deixa-se estar lá a remolhar. No fim, vai-se vendo se ela tem sal. E depois há umas enchedeiras. Mete-se na chouriça e toca a botar a carne lá para dentro. Em estando cheia, ata-se. Põe-se ao fumeiro e seca-se. É no caniço. Há uma fogueira. A gente põe-lhe lenha, pendura-as assim por cima e elas estão a secar aí oito, 15 dias, conforme o tempo que quer. Se lhe derem mais lume, secam mais depressa. Se lhe derem menos lume, demoram mais.
Mas os presuntos, as pás e a outra carne punha-se no sal. Bota-se sal lá numas arcazinhas e vai-se dali tirando no fim de três meses, três meses e tal. Depois a gente levanta os presuntos, lava-os e prepara-os. Põe-lhe colorau, põe-nos a secar e cura-o assim. Fica curadinho. Quando a gente quer, vai, corta uma febra, põe-a com o pão e come. É muito bom.