Havia três alfaiates na terra, mais velhotes. Dois morreram e o outro disse:
- “Corri com eles, que eles ao pé de mim não faziam nada!”
Porque isto é assim: as terras são pobres e, por vezes, a gente fazia a obra e não pagavam. Era raríssimo entregar a obra feita e pedir contas. Eram conhecidos, a gente não duvidava. De maneira que, às vezes, passava-se um mês, dois meses, três meses e até anos sem que nos pagassem.
Ainda trabalhei 49 anos para o público. Há coisa de uns 25 anos é que deixei a costura. Noutro tempo, um homem que queria uma camisa tinha que comprar o tecido e depois levar a uma costureira para lhe fazer. Ninguém comprava umas calças feitas, nem um casaco. Eu fazia casacos para homens e para mulher, para tudo. Até saias cheguei a fazer. Quando era para os casamentos, onde estive, nunca lá vi fazer uma saia. Tinha uma irmã da mulher, que era costureira, essa é que fazia isso. Mas fazia casacos para mulheres. Sobretudos. Casacos curtos à homem e compridos até baixo. O casaco que fosse para homem, até tapar o joelho, tinha o nome de casaco a três quartos. Naquela altura, os primeiros casacos e saias que fiz levei 30 escudos. O primeiro que fiz na terra foi para a minha mulher, para o casamento. E depois, para fora, foi para o Piódão, pelo São Pedro, para duas irmãs e uma cunhada. Fiz aquilo tudo a 30 escudos cada fato. Saia e casaco. Naquele tempo, havia o hábito das pessoas trazerem até os botões. Queriam botões conforme o gosto deles. Quando iam comprar o tecido, compravam logo linhas à cor da fazenda e os botões. E, quando vinham ter comigo, era só mão-de-obra. Marcava os fatos com fita métrica e o giz para riscar. Depois, com a tesoura é que cortava. Eu regulava por três dias casaco, colete e calças. Naquele tempo usava-se o colete também. E hoje já ninguém quer colete.