Eu o que não tenho, o que não posso fazer, ou o que não está do meu lado, também não gostei de ter. E, naquilo que eu ponho as mãos ou que estou hábito para isso, faço com cuidado até tomar prática. O resto, o que não posso, não posso. No princípio ainda pensei ir para o estrangeiro. Fiz uma carta para mandar para um sujeito que estava no Brasil, para me mandar a carta de chamada de lá. E fui meter a carta no correio. Quando estava a fazer a carta a minha mãe começou a chorar. Mas eu nem lhe dei ouvidos, nem olhos, nem coisa nenhuma. Fiz a carta e fui metê-la no correio. Quando eu pensava que ela já ia a caminho, a carta estava em casa. A minha mãe foi ao correio, levantou a carta e guardou-a. A crise do trabalho em Portugal era tanta que o que eu queria era trabalhar. Fazer alguma coisa ainda que o ordenado fosse baixo. Gostava de ganhar alguma coisa. Eu era o mais velho, os meus pais já não podiam, estavam assim um pouco inválidos, então tinham que ser os filhos. Coitados, eles também não podiam fazer tudo. Então, a minha mãe foi tirar-me a carta e disse:
- “Olha, que tu não esperes pela resposta.”