Quando a minha avó teve os primeiros filhos, eles morriam-lhe. E, naquela altura, não era como agora que havia aqueles biberões para dar às crianças. Se a mãe morria de parto, não havia nada para dar às crianças, coitadinhas. As mulheres que davam a mama aos outros é que criavam aquelas crianças. Agora iam dar a casa deste, amanhã lá a queriam à casa daquele, porque eram pequeninos e não comiam. Então, a minha avó uma vez tinha um menino e dava-lhe o leite. Mas depois ele morreu. Então, veio cá um senhor para a minha avó lhe criar o filho, porque tinha morrido a mãe. Morreu de parto. A minha avó, coitadinha, aceitou para ganhar alguma coisa. Não era de graça. A minha avó criou o rapaz da Malhada Chã. Dava-lhe o alimento e punha-o à cozinha dentro de uma cestinha. Só lhe dava a mama e, quando ele fazia chichi, arranjava e limpava. Antigamente diziam que com 7 meses já se criava, mas aos 9 meses não. E, então, até aos 9 meses o menino nunca chorou. As minhas tias diziam para a minha avó:
- “Ai, como tu foste trazer o menino! Então, ele não chora nem nada. O menino morre.”
Parecia que estava morto. A minha avó dizia assim:
- “Olha, se morrer, mais um almotolia de azeite trazes para alumiar o menino.”
Porque cá, dantes, a gente não tinha velas. Era com azeite. Com umas candeias é que alumiavam as pessoas que faleciam. Mas, no dia que fez 9 meses, chorou o menino! A minha avó ficou toda contente dele chorar! Pronto, criou-o cá. Depois, ao fim, veio cá a família dele buscá-lo.
Mais tarde ele casou-se, foi para Lisboa. Mas já estava casado e ainda foi enganar a prima. Ao fim, quando cá vinha ver a minha avó, trazia-lhe um pão de trigo, 1 quilo de açúcar e um bocadinho de café. Eu era pequena, mas lembro-me bem. Naquele dia que ele veio, disse-lhe a minha avó:
- “Ó José, tenho cá um cajado para te bater! Então, tu vais fazer uma coisa daquelas!? Já com filhos ainda vais enganar a prima!?”
Eu lembro-me como se fosse hoje. Parece que ainda o estou a ver agarrado à minha avó:
- “Bata que você é minha mãe!”