Casei-me, tive logo a filha. Tive-a em casa. Foi a minha mãe e uma cunhada minha que me ajudaram. Era tudo assim. Não é como agora. Alcançam os filhos, começam logo no médico, a tirar ecografias e isto e aquilo. A gente não, nunca foi ao médico. Andavam na barriga, lá nasciam, lá se criavam e pronto. Ainda me lembra. Quando a minha filha nasceu, veio lá um pássaro. Chamam uma coruja. Veio lá estar a cavar em cima do telhado, a berrar. E, quando elas fazem assim, diz que morrem as pessoas. Então, a minha sogra ficou aflita, que morria a menina ou eu, e foi lá andar às pedradas à coruja. Mas, naquele tempo, toda a gente nascia em casa. Até havia uma parteira, uma mulher curiosa que ia fazer os partos. Diziam-lhe:
- “Olha, vem lá que a minha filha ou a minha nora ou assim está para ter o bebé.”
E essa pessoa curiosa ia lá e fazia as coisas. Em cada terra havia sua, mas nas Luadas chamavam-na Piedade.