Quando era no tempo de feijão, que a gente tinha feijão para debulhar, juntavam-se as mulheres e ajudavam umas às outras. Era na sala da minha casa que a gente debulhava. Trazíamos uma canastra para lá e debulhávamos o feijão. E quando era por o tempo do milho, que a gente secava o milho, também assim era. A gente dizia:
- “Meteu freguês?!”
E chamávamos aquelas pessoas, umas e outras, para ajudar. A gente a quase nunca fazia o trabalho sozinha. Mas não debulhávamos aqui. Era além adiante, numa barraca. Depois a gente ainda tirava os “caçamudos” ou casulos, como outros chamam, para umas cestas e juntávamos o milho. Deixávamos estar aquilo já junto num monte e, ao outro dia, levávamos os cobertores para lá. A gente cá não tinha toldes, não tinha dinheiro para os comprar. Eram uns cobertores que mandávamos fazer muito longe, já a gente passávamos aquele alto da serra. Levávamos a lã das ovelhas a trocar e trazíamos os cobertores. Quando era que elas debulhavam, a gente ia lá também ajudar-lhes. Se debulhavam todos no mesmo dia, ia só uma pessoa da minha casa para cada um. Se debulhavam mais do que a todos no mesmo dia, naquele dia não debulhava ninguém, íamos todos lá ajudar. Nessa altura, a minha avó, coitada, já era velha, já não podia andar por lá de noite (porque a gente debulhava só de noite, não era de dia).