Nunca deixámos os meus filhos irem para a rua. Brincavam ali à porta. O meu marido dizia:
- “Se quer brincar, brincar aí à porta!”
Mas a minha filha mais velha era muito esperta. Queria ela ir para a rua para o pé dos outros. Então, o que é que o meu marido fazia? Prendia-a com uma linha de alinhavar ao braço! Mas fazia aquela linha muito grande, muito comprida. E dizia:
- “Agora brinca aí à vontade! Olha que, se tu empurrares, tu partes a linha!”
Estavam as portas abertas e tínhamos ali bem onde brincar. Mas, se os outros para cá não vinham, ela brincava ali à porta. Se os outros para cá vinham, ela, coitadinha, era sozinha e não queria, já não lhe apetecia brincar. Quando foi dos outros filhos, já eram mais crescidos e, às vezes, já iam para a rua. Mas depois a minha avó fazia o comer e ainda tinha que os ir chamar. Chateava-se muito. A minha filha agora conta que a avó, às vezes, quando ia à procura deles, arranjava assim uma varita. Quando a viam ir com a varita, já sabiam que ela que ia para lhes bater. Mas escapavam-se todos! Ainda ela vinha além por a rua, já eles fugiam por ali para cima! Quando a avó cá chegava, eles já estavam em casa. Dizia ela:
- “Ora eu ando farta de trabalhar no campo, chego aqui, tenho que fazer de comer e, ao fim, ainda tenho de ir à procura de vós para comer! Não sabeis cá estar!?”
Então, o meu marido chegava e ralhava com eles. Às vezes, ainda lhes dava porrada ou uma palmada na cara por causa deles não estarem e a avó ainda ter de ir à procura deles:
- “Vós não sabeis cá estar? Então não sabeis que a vossa avó vem cansada lá do trabalho e vós ainda estais aqui?”