Havia cá um padre, chamavam-no José Barata. Tinha um menisco num joelho e depois, coitado, não podia andar. Não havia estrada, andava muito devagar. Então, vinha cá dormir todos os sábados. Eu botava-lhe o jantar todos os sábados. Morou cinco anos naquela casa que temos ali! Era lá que dormia. Mesmo depois, quando eram os outros mordomos, eles davam-lhe o jantar à noite e ele lá ia a jantar. Mas em acabado de jantar, abre logo para minha casa. Ainda estávamos a comer. Depois, quando se ia ali deitar, a gente aquecia-lhe uma pinga de leite com um bocadinho de café, que ele queria sempre um bocadinho de café também. Ele tomava e depois ia para cama. Depois, ao outro dia, levantava-se. Quando acabava a missa, enchíamos metade do termo - a gente já via mais ou menos o que ele bebia -, levávamos uma caneca e ele bebia. Coitado, ao fim ainda ia dizer missa ao Piódão. A gente tinha dó dele. Ele era assim muito amigo de conversar também. E era muito bom para a gente e para os meus filhos.
Quando o meu filho esteve na França, tanta carta o padre José Barata lhe escreveu! Um dia estávamos ali a escrever uma carta à cozinha. E depois a gente, naquela altura, não tínhamos coisas de alumínio, nem de esmalte, nem nada. Fazíamos o café num pucarinho, uma cafeteira de barro. A minha filha, não sei como é que foi, deixa cair o diabo do púcaro! Saltou dela, partiu. Ele estava a escrever uma carta para o meu filho e diz-lhe assim:
- “Senhor Carlos, nesta hora, a sua irmã partiu um púcaro como se assustou bastante!”
Ele ao fim lia a carta para a gente e perguntava se queríamos mandar alguma coisa. Mas eu nunca me esquece aquilo! De vê-la a contar e, ao fim, ver o meu filho contar também.