Antigamente, tínhamos um senhor no Piódão que chamavam-lhe o barbeiro, que era o curandeiro. Era um homem muito entendido, não tinha curso nenhum mas era uma pessoa muito culta para a época. Usava as ervas para curar. Isso acredito eu. Ele fazia curas do arco da velha. Há uma erva que é como eu curo as minhas feridas. Tenho o “Betadine” do campo. Mas há muitas ervas em Chãs d'Égua. Eu é que não as conheço. E depois transmitiu ao filho, que o filho ficou igual a ele. Mas já morreram os dois.
Havia doenças que o médico para vir à aldeia tinha de vir a cavalo. E vinha de Avô, ou vinha de Coja. Eles vinham a cavalo, e então quando chegavam, às vezes, já estava morto. Porque a pessoa estava doente, mas não procurava o médico.
- “Ah isto passa, isto passa.”
E esse indivíduo, é verdade que está confirmado que é verdade, que os ervanários curam. Demoram é muito tempo, não actuam logo. Enquanto a Medicina actua logo. Se eu tomar uma aspirina daqui a bocado as dores de cabeça passam. E se for tomar uma erva, um chá, é capaz de passar mas tem é dois ou três dias depois. Pode passar por ela mesma. E então ele conhecia as ervas.
Esse homem também esteve em África. E em África é de onde vêm as ervas para as ervanárias, normalmente. Eu conheço um ervanário na Piedade. Uma vez levei-lhe umas folhas, que é a salva, diz-me ele assim:
- “Onde é que você apanhou isso?”
- Apanhei na minha terra, só trouxe para você ver.
E diz-me ele assim:
- “Isto é que é a verdadeira salva. Esta é a verdadeira salva!”
Que a salva que ele já tinha é uma salva plantada e esta não, esta é selvagem. E ele disse:
- “Você não me arranja uns sacos disto?”
- Ó, amigo, isso não há lá em quantidade.
Mas antigamente havia muito disso. Hoje nem isso há em grandes quantidades. O barbeiro dava as mezinhas dele. Houve um indivíduo que foi a um médico, que era um grande médico, o doutor Campos, que era de Avô. Também já morreu, tem lá o busto dele. Ficou muito conhecido aqui na zona, então esse tinha desenganado uma pessoa que ia morrer, e ele disse:
-“Então está bem, vamos lá ver o que é que vamos fazer”.
Ele consegue lá arranjar a mezinha, conseguiu curá-lo e safá-lo da morte. Daí a uns tempos o médico vem a saber que ele não morreu. Depois:
- “Então o que é que aconteceu?”
Ele disse que quem o tinha curado tinha sido o Francisco do Piódão. Ele veio ter com ele e disse:
- “Você tem que me dizer o que é que você lhe deu, como é que você o curou.”
E ele disse:
- “Não senhor. Isto são segredos meus.”
Porque a Medicina não acredita na ervanária. E era a razão que ele explicou. Eu tenho a minha médica de família, e eu estou a tomar uma planta, parece uma cabaça. Ponho aquilo à noite numa coisa com água, de manhã meto-lhe um limão, e bebo. Aquilo é bom para o colesterol. O colesterol vai abaixo e a tensão e tudo. Mas eu não posso dizer isso à minha médica. Se eu lhe disser ela diz logo que eu sou um charlatão, que só ando metido com charlatães e já não me dá os medicamentos. E eu não. Eu já sei que ela é assim. Porque eles não acreditam naquilo.
Nós temos muitas ervas que curam. Temos a erva-cidreira, há muita. Também se planta agora. Temos o sabugueiro, que é bom para a constipação. Temos a flor da carqueja, que também é muito boa. Tínhamos a barba de milho, que era bom. Era cozida, depois bebia-se a água. A flor da carqueja dizem que faz bem às dores de cabeça. O “Betadine” do campo, arranco e esfrego logo na ferida. Sai o líquido do caule. Quase do fundo. A gente carrega lá do fundo e ela vem. E esfrega-se. Havia uma coisa também que era o lírio. O lírio, por exemplo, uma pessoa tinha um furúnculo, punha aquilo com um bocadinho de azeite em cima e aquilo rebentava. Cheguei eu a fazer. É real.