Quando frequentei a escola primária, havia 40 e tal alunos. Fiz a segunda classe em Chãs d'Égua, depois a professora foi-se embora e nós, para fazer o exame da segunda classe, tivéramos de ir para uma terra chamada Malhada Chã. Íamos a pé, subíamos a serra, passávamos para o outro lado, todos os dias. Demorávamos duas horas. Íamos de manhã e vínhamos à tarde. Durante três meses, para fazer o exame da segunda. E, naquela altura, andávamos bem. Éramos novos. O pior era quando chovia, chegávamos todos molhados. Enxugávamos a roupa no corpo. Isso é que era pior. Levávamos comida. Broa com queijo. Às vezes com um bocadinho de carne. Outras vezes levávamos uma sopa dentro de uma marmita. À tarde regressávamos pelo mesmo caminho. Depois fomos fazer o exame numa terrazita, que é Sobral Magro.
Não acabei a primária porque a professora foi-se embora. Nessa altura, não havia estradas, nem luz, nem telefone. E então elas não se sentiam bem na aldeia. A minha professora era da Figueira da Foz. Era casada e tinha três meninas. Foi passar férias à terra e ficou por lá. Nunca mais apareceu. Conclusão, saí de Chãs d'Égua tinha 14 anos e fui concluir a quarta classe em Lisboa. Fiz a minha instrução primária. A partir daí fiz a minha vida por Lisboa.