Eu vivo em Lisboa, na Cova da Piedade. Tenho lá o meu domicílio. É lá que eu estou. Mas venho para a minha aldeia em Abril e depois vou em Novembro. Nestes meses faço uns biscates para o pessoal. Um precisa de uma coisa vem ter comigo. Outro precisa de outra... Mas eu não ganho nada, eu até tenho prejuízo. Eu compro máquinas, às vezes, material, e alguns dão-me qualquer coisa. Por exemplo, dão-me um garrafão de vinho, um dá-me uma garrafa de aguardente, outro dá-me uma garrafa de azeite e pagam-me assim. Não é que eu queira que eu não quero. Não quero nada disso. Estou aqui para me entreter, é a conclusão. Às vezes leio, tenho aí livros e leio. Tenho o “Jornal de Arganil”, quando vou lá baixo compro sempre o “Correio da Manhã”, que é o jornal que leio lá. À noite vejo televisão, é o meu passatempo. Aqui se não tiver nada, também não se está bem. Em Lisboa, a gente sai, hoje vai para aqui, amanhã vai para acolá. Vê pessoas, vê isto, e aqui não se vê nada.