Agora já nem há nada disso, mas primeiro havia o lobisomem. Um lobisomem é um homem que tem um poder. Dá-lhe aquilo e ele tem que ir correr sete freguesias numa noute. Sei lá, é um condão. Às vezes, diz-se assim:
- “Olha, aquele é como o lobisomem! Tem que ir correr sete freguesias numa noute.”
Aqui na Benfeita, há uma parede alta ao pé do café. Passava aí um. Para lhe ir embora aquele condão que ele tinha de ser lobisomem, tinham que o picar com uma aguilhada. Um dia subiram ali para um quintal e, quando ele ia a passar, deixam cair a aguilhada e picaram-no. O que é picaram-no num lado que ele ficou coxo. Mas também já nunca mais teve aquele condão. Ficou curado. Isto contava a minha sogra e aquela velhota, a dos Anjos, também já tem dito. Com certeza nasciam com aquele poder. Naquele tempo, diziam que, se nascerem sete rapazes, todos rapazes, sem haver uma rapariga, um é lobisomem. Mas, se puserem a um deles o nome de Maurício, já não vai ter aquele poder de ser lobisomem. Mas tem que ser Maurízio. Ou o sétimo ou um qualquer.
Assim como os lobisomens, também havia bruxas. Primeiro não diziam que havia bruxas? Pois havia! Havia um homem nas Luadas. Tinha uma junta de bois. E, de manhã, levantava-se cedo. Iam roçar o mato e ele trazia uma carrada de mato. E as bruxas andavam a dançar numa eira em cima e escangalharam a carrada do mato toda. Ele ia no carro e disse:
- “Vocês têm que me enfaixar o mato todo. Senão, eu amanhã vou dizer que vocês que são todas bruxas, que vocês que me escangalharam o mato!”
Elas lá andaram de roda dele, de roda dele. Mas depois ele disse-lhes o Pai Nosso ao para trás. Elas não puderam sair dali. Começava-o ao para trás. Onde acabava a Ave Maria, que acaba agora, era onde começava. E ao para trás prendia as bruxas. Elas já não se iam embora. Tinham que ficar ali. Só quando lá lhes disse o Padre Nosso bem é que elas foram embora. Depois o homem que as lá encontrou só as descobriu, só dizia que elas que eram bruxas, quando elas iam morrendo. Quando morria uma, ele dizia:
- “Olha, aquela era bruxa!”
Morria outra:
- “Olha, aquela era bruxa!”
Ainda lá tem filhos e netos esse homem.