O meu pai chamava-se Abel Custódio e a minha mãe Maria Gracinda.
O meu pai, em solteiro, já trabalhava na serradura. Andava por essas terras todas ao serrote. Depois de casado continuou outra vez. Quando deixou a serradura, foi para as Minas da Panasqueira e levou-nos a mim e à minha mãe. Eu devia ter aí talvez uns 6 anos. Tinha mais outra irmã mas essa não foi. O meu pai tinha que ir ganhar dinheiro para nós, para comer. Depois viéramos de lá outra vez para Chãs d'Égua. O meu pai ficou lá a trabalhar. Também trabalhou em Lisboa. Quando ele veio, mais tarde, foi para Miranda do Douro, para Trás-os-Montes. Começou naquelas barragens a trabalhar. Na companhia das barragens, tudo “pia fora”. Até que chegou a ser 1º encarregado. Ao fim, mais para o resto, já era fiscal. Ele viveu muitos anos por fora porque não podia vir. Vinha cá muito amiúde, quando era por os anos da gente, por o Natal, no Verão. Quando cá vinha, não vinha sem nada. Trazia carregamentos de pão, muito comer para casa. Aquilo que fazia falta. Mas ele esteve muito tempo por lá. Ele tinha que ganhar o pão para a gente e para pagar a dívidas da casa. Em 1977 reformou-se. Foi quando veio outra vez para Chãs d'Égua e já não saiu de cá mais. As minhas irmãs já estavam casadas e eu é que estava com eles. Esteve cá sempre a trabalhar com a gente. Depois mais tarde adoeceu.
A minha mãe, coitada, também estava muito doente. Também foi sempre no campo, nas fazendas. Ajudavam uns aos outros. E andaram lá sempre na cava. Era preciso dois dias de uma mulher para fazerem um dia de um homem.