A terra dos meus pais era pouca, mas cultivávamos das outras pessoas que não estavam cá. Cultivávamos a terra das outras pessoas para apanharmos alimento para a gente. Andei muitos anos a cavar oliveiras e a apanhar azeitona com uma escada de 14 lanços. Ao fundo da casa tinha um olival. Andei lá muita vez mais a minha mãe, que Deus tem, sozinhas. À noite, a cavar no tempo da azeitona. A minha mãe ia tratar das cabras e eu agarrava no saco de azeitona e ia levá-lo lá “pia baixo”, lá para onde a gente a juntava. Era lá em baixo na Foz d'Égua, no lagar, que íamos levar a azeitona. Agora o lagar já não trabalha. Temos que ir para a fábrica. No lagar, a gente, às vezes, não pagava nada. Eles ficavam com aquela coisa de azeitonas - chamavam-lhe aquilo o cardaço - e a gente trazia o azeite. Não pagávamos nada. Às vezes dávamos uma bucha, era conforme. Se queriam dar alguma coisa davam, se não queriam não davam. O meu avô, o pai da minha mãe, andou lá muitos anos a trabalhar no lagar. Às vezes, chegava de noite da azeitona, lá ia eu a caminho do moinho para trazer a farinha para o outro dia para os porcos. Era tudo de graça. Nós tínhamos parte nos moinhos. A gente sabíamos quando é que era o nosso dia. Então, a gente dizíamos ao vizinho:
- Olhe, leve-me esta mechinha de millho. Nós até logo vamos lá ver.
Outras vezes íamos lá nós deitá-lo. Era assim. Nós aqui em Chãs d'Égua éramos todos unidos uns com os outros. Fazíamos assim o favor uns aos outros. Quando era que acabavam-no de moer, trazíamos a farinha. Íamos lá varrer. Aquilo era engraçado. A gente antigamente dizíamos que era 1 alqueire, meio alqueire de milho. Era assim uma forma de madeira. Depois mediam para ali o milho. Meio alqueire era 8 litros e 1 alqueire parece que era 16 litros.