A gente apanhávamos o milho e depois, à noite, juntávamos uma malta grande, para uns e para outros:
- “Eu hoje vou debulhar o milho!” - dizíamos assim.
Os vizinhos vinham ajudar. Ao outro dia, eram os vizinhos, íamos nós ajudar a eles. Depois estendíamo-lo ao sol, numas mantas. Antigamente as mantas eram de fitas, mas eram grandes. Então, fazíamos aquelas debulhas e outro dia íamos estender. Estavam os homens com um pau a bater nas espigas e as mulheres era a tirar o milho do casulo. Andávamos assim. Ajudávamos uns aos outros. E à noite, às vezes, quando era assim no fim da colheita, a gente dava:
- “Olhe quer uma pinga?”
Algumas rezavam até o Terço muitas vezes. Cantar não me lembro que cantassem assim muito. Rezar o Terço é que rezavam, às vezes. Esses mais antigos. Agora não. Agora não há nada.
Quando íamos apanhar o centeio, cozíamos para comer. E também íamos moer o milho para fazer a broa e comermos. Quando era no forno da povoação, havia sempre gente assim:
- “Ai não! Eu não vou lá pôr, eu não vou aquecer o forno!”
Mas depois iam lá pôr um pau atrás da porta do forno para saber que já havia quem aquecesse o forno. Iam então dizer:
- “Olhe, foi você que lá foi pôr o pau? Posso cozer consigo?”
- “Pode.”
E era assim. Noutro tempo eram todos muito unidos uns com os outros.