Até com 10 anos já levava os ovos à Covilhã! Levava carregos mesmo. Comecei a levar um cesto com 2 centos. Eram 16 dúzias e oito ovos. Levava num cesto que levava 1 alqueire de milho. Ainda me lembro, a minha irmã pedia lá aos homens que iam com os bois lá na estrada, ali no Paúl, por aí acima. Dizia-lhes:
- “Leve-me lá a minha irmã!”
Punha lá o cestito de cima do carro dos bois e eu também subia. Já me aliviava. Porque muitas vezes passei aquela estrada a dormir. Isso é que era de admirar! Ia cansadinha, o sol era muito e, às vezes, dormia com o cesto à cabeça. Graças a Deus, com a minha irmã nunca deixei cair os ovos. Ela até gostava de me levar. Uma irmã minha mais nova foi lá, parece que duas vezes, partiu-os. Depois ela levava-me a mim. Naquela altura, era aquele cesto. Depois veio cá o canastreiro, fez outro cesto maior que já levava 3 meios de milhos. Quer dizer, em lugar de ser 20 litros eram 30. Mas o nosso alqueire em Chãs d'Égua era só de 16. 16 com mais 8 eram 24. Faz de contas que era 24 litros no alqueire e meio. Levava então o cesto cheio de ovos, porque levava mais.
Quando foi aos 15 anos, veio um homem a fazer cestas e fez uma cestita pequena. Mas era nova e eu toda contente com a cestita! Se calhar ainda era mais pesada. Levei a cesta e a minha irmã pôs-lhe um pano por cima bonito. É a tal tolice. Eu ia assim de vontade com aquela cesta, mas não sabia quantos é que levava. Com 15 anos já levei 35 dúzias. Mas eu nem sabia que os levava. Ia toda contente com a cestita. Quando lá cheguei, é que a minha irmã disse:
- “Hoje a minha irmã trouxe 35 dúzias!”
Mas eu depois, aos 17 anos, comecei já o negócio por minha conta, porque ela casou. Já comecei a levar logo as 40 dúzias. Depois cheguei a levar umas 50 dúzias para a Covilhã. O carrego era muito grande. Eu ia buscá-los lá em baixo à freguesia de Pomares. Para ir buscá-los demorava um dia. Ia sozinha. Depois chegava cá, arranjava-lhe mais palha, punha-os mais bem arranjados. Depois íamos aí quatro ou cinco raparigas para a Covilhã. Abalávamos de manhã, chegávamos lá à noite. Mas era se fosse de Verão. De Inverno tínhamos que ficar ainda pelo caminho. Eu não aguentava. Ao outro dia saíamos de lá. Às vezes, vínhamos para casa, outras vezes, também ainda demorávamos a fazer compras e assim. Tínhamos que demorar mais um bocado do outro dia ainda. Dois dias e meio para a Covilhã. Todas as semanas e andar a pão e o conduto! Levávamos um queijo, uma chouriça, um bocado de carne e era a nossa comida durante aqueles dias. Às vezes, comprávamos um bocadinho de leite. Havia uma casa no Tortosendo, que era o doutor Garrett. Tinham lá muitas vacas. Aquele leite era muito bom. Ferviam o leite primeiro. Nessa altura é que ainda passávamos menos mal, porque comíamos aquele leitinho com pão. Já era melhor. Porque senão ainda tínhamos que andar todo o dia às secas com pão e conduto.