Os meus pais chamavam-se José Romão da Luz e Ana da Conceição. Eram daqui, naturais de Chãs d'Égua. O meu pai nasceu na Eira da Bouça. A minha mãe nasceu na povoação. Trabalhavam na agricultura. Ele esteve muitos anos desempregado. Naquele tempo não havia Caixas, não havia nada. Esteve 35 anos no concelho da Covilhã, empregado numa casa. Era ajudante de camionista. A minha mãe foi sempre na agricultura, a cultivar os milhos, as batatas. A vida dela foi sempre essa.
A minha mãe era a mais disciplinadora. Estava sempre em casa. Às vezes, eu levava porrada. Que remédio tinha eu senão aguentar-me. O meu pai, esse, praticamente andou quase sempre fora de casa. Andou toda a vida fora, como eu.
Eu tinha um irmão. Éramos muito amigos. Íamos daqui para Cebola, para a Covilhã, para as Minas da Panasqueira a pé, de noite. Tanta vez! Morreu com 19 anos, com um cancro no sangue. Tinha agora, se fosse vivo, 67 anos. Esteve oito meses no hospital de Santa Maria em Lisboa. Depois, veio para aqui. Morreu-nos entre as vésperas do Ano Novo. É assim a vida. Assim se vai passando. Assim vamos andando e cá andemos até calhar. Até cá andar.
Conheci os meus avós. Todos os quatro, os da minha mãe e os do meu pai. Tinha uma boa relação com eles. Ainda hoje me lembro da minha avó. Já morreu há muitos anos. Os pais da minha mãe morreram, tinha eu 8 anos. Os pais do meu pai, tinha 10, quando eles morreram. Qualquer um deles era muito meu amigo e eu era amigo de qualquer um deles. Também fazia o que queria. A minha avó andava sempre a dar-me dinheiro:
- “Toma lá 5 tostõezitos...”
E eu, todo contente. Lá andava aos 5 tostões. Andava-nos sempre a dar dinheiro.
Naquela altura, havia mais respeito pelos mais velhos. A vida era outra! Mais velhos e mais novos. Alguma vez se compara aquele tempo, que a gente se criou, com agora? Não é nada que se compare.