“A gente só comia carne na festa”

O dia de matança do porco era uma festa. Cada um matava os porcos que tinha e, ao fim, ajudavam-se uns aos outros. Hoje, tinha um porco para matar. Vinham-me ajudar. Amanhã, ajudava o outro. Matava-se e começava-se logo a comer nele. Era partir, comer e beber. Uma festa! Então para a miudagem nova, era uma alegria! Gostavam.

A gente, naquele tempo, só comia carne na festa. Quando eu era miúdo, toda a gente tinha gado. Então, um, dois meses antes da festa, apartavam a rês mais velha que lá tinham para engordar, para matar. A gente dizia:

- “Eh, pá! Nunca mais vem a festa... Nunca mais vem a festa...

A gente queria era comer um bocado de carne! A festa nunca mais chegava.

E galinhas, só se estivesse para morrer. Ao fim, a pessoa já não comia a galinha. Diziam:

- ”Ai, coitadinha... Olha, morreu e já não chegou a comer a galinha...“

Agora, come-se carne todos os dias. Naquele tempo, não. Quando a gente era nova, passou uma vida... Ah, coitados... Agora, a vida é outra. O ambiente é outro. Ainda bem. Nós, naquele tempo, era um problema.

A carne era diferente. Para melhor! O porco demorava um ano a criar. Compravam-se pequeninos. A gente criava-os cá só com hortaliças e farinhas dos nossos milhos. Era muito mais gostosa. Agora, são criados à pressão. É como os frangos. Já deixei de criar, mas criava-os aí com hortaliças. O que a gente cria é muito melhor. A carne é mais rija que aqueles que a gente compra. Os que a gente compra, no fim de cinco minutos já estão desfeitos.