Toda a gente cultivava milho. Estas terras, tudo dava milho. Era apanhada a espiga, era debulhado e era seco. A apanhar o milho e a fazer a desfolhada, ajudavam-se uns aos outros, à noite. Hoje era um, amanhã era outro.
Naquele tempo, a gente ajudava-se uns as outros. Era ajuda por ajuda. Não era a pagar. Hoje, ajudava aqui, amanhã, ajudava ali, outro dia, ajudavam-me a mim. Era na criação do milho, era nas vindimas, na azeitona, às vezes... Aqueles que amanhavam mais depressa, ao fim, iam ajudar os outros que ainda estavam atrasados. Era assim que se fazia naquele tempo.
O milho, secava-o nas terras. Tinha que secar o grão. No fim de o milho seco num estendal - como a roupa -, a gente apanha-o e é malhado com uns paus. Depois, é arrecadado numa arca. De lá, é que conforme a gente ia moendo, assim ia tirando. Cada vez que queria cozer o pão, ia moer nestes moinhos de pedra, a água. Naquele barroco, por cima do povo, há sete moinhos. E havia sete moinhos, naquele tempo, a moer milho. Eram das pessoas daqui.
Antigamente fazíamos o nosso pão. Na altura toda a gente cozia. Temos fornos aqui em cima. Aqui, temos um da povoação toda. Era de nós todos, mas cada um cozia para si. Não era junto. Hoje cozia eu, amanhã cozia outro, outro dia cozia outro. Não andávamos à espera uns dos outros. Não coziam todos no mesmo dia nem na mesma hora.